Conheça detalhes do conflito que redefiniu o mapa da Europa no fim do
século X.
pós o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a união de seis repúblicas
(Sérvia, Eslovênia, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Montenegro e Macedônia), e
de duas províncias autônomas (Kosovo e Vojvodina), deu origem à República
Federal Socialista da Iugoslávia. Instituída sob o regime comunista, e
governada com mão de ferro entre 1945 e 1980 pelo marechal Josip
"Tito" Broz, a Iugoslávia foi capaz de resistir por 35 anos às
diferenças dos povos que a formavam. Mas não foi para sempre. A morte de Tito,
em 1980, e o enfraquecimento do sistema comunista ao longo da década seguinte
(culminando com a queda do muro de Berlim, em 1989), fez com que os comunistas
começassem a perder o controle do país. Com isso, divergências do passado
começaram a se agravar. O palco se tornou favorável para vários tipos de
discursos, do nacionalismo sérvio à crença de que era chegada a hora para
eslovenos, croatas, bósnios e kosovinos fundarem seu próprio país.
Os primeiros a agirem foram Eslovênia e Croácia, que em 25 de junho de
1991, via referendo, declararam independência. A decisão desagradou o
presidente sérvio Slobodan Milosevic. O primeiro alvo de Milosevic foi a
Eslovênia, numa guerra de "tiro curto" que durou 10 dias. Depois de
algumas bombas e ameaças, um acordo foi firmado pelo governo esloveno e a
Iugoslávia. Resolvida a questão da Eslovênia (que sempre foi mais
"Ocidental" do que "Oriental", e continha pequena
representatividade sérvia no país), o exército iugoslavo - sob o comando de
Milosevic - focou seus esforços na Croácia e, prontamente, invadiu o país com a
ajuda das milícias sérvias locais. Com o sangue respingando nas coberturas
televisivas (mesmo que em doses homeopáticas), ONU e Comunidade Europeia
intervieram no conflito.
Seguindo os passos da Eslovênia e da Croácia, a Bósnia e Herzegovina foi
a terceira república da antiga Iugoslávia a declarar independência, em
fevereiro de 1992 (também via referendo). Contrários à decisão, os sérvios, que
defendiam a permanência da Bósnia na Iugoslávia, deram início aos confrontos na
capital Sarajevo. Pelo país, integrantes de diferentes culturas e religiões
estavam se aniquilando. Começou um processo de limpeza étnica liderado pelos
sérvios. Valia tudo, desde massacres coletivos a estupros sistemáticos de
mulheres bósnias, que, pela lei vigente, tendo filhos de pais sérvios, dariam à
luz a crianças "sérvias legítimas".
Desde o fim da guerra na Bósnia, em 1995, a tensão entre a província
autônoma de Kosovo, de maioria albanesa, e o que restou da Iugoslávia também
começou a crescer. Em 1998, os confrontos entre as forças de segurança sérvias
e o Exército de Libertação de Kosovo (ELK) se intensificaram. Na luta pela
independência, separatistas de Kosovo chegaram a controlar parte da província quando
tiveram sua autonomia castrada por Milosevic, graças ao fechamento do
parlamento kosovino e a entrada em campo das tropas sérvio/iugoslavas. A
situação chegou ao extremo em 1999, quando após uma tentativa fracassada de
assinar um acordo de paz com os sérvios, a Organização do Tratado do Atlântico
Norte (OTAN) atacou a Iugoslávia em março daquele ano no centro de Belgrado,
capital da Sérvia, até hoje prédios que foram alvo do ataque restam intocados,
e destruídos.
Em 2008 Kosovo conquistou, finalmente, sua independência. Porém, 13.500
pessoas foram mortas no período, conforme levantamento do Humanitarian Law
Center (HLC). Este episódio, ainda não bem resolvido, segue sendo um dos
motivos que barram a entrada da Sérvia na Comunidade Europeia.
Fruto desta série de episódios, a Iugoslávia deixou de existir,
oficialmente, em 2003, dando lugar a um novo país, chamado Sérvia e Montenegro.
Em 2006, porém, as duas nações também se separaram, após referendo, criando os
hoje independentes países da Sérvia e de Montenegro. O espólio da guerra,
entretanto, ficou com a Sérvia, por motivos óbvios. No total, nove
enfrentamentos armados foram registrados envolvendo as seis repúblicas da
antiga Iugoslávia e as duas unidades autônomas, num número aproximado de 140
mil mortos, outra centena de milhares de desaparecidos e, pelo menos, 2,2
milhões de refugiados, entre 1991 e 2001.
Guerra na Croácia: Vukovar, símbolo de
resistência.
Entre 31 de março de 1991 e 12 de novembro de 1995, Croácia e Sérvia
travaram, no território croata, uma batalha que deixou mais de 23 mil mortos, e
cicatrizes em ambos os povos. Para os croatas, o episódio é chamado de
"homeland war" (luta em defesa da terra e da propriedade/casa). A versão
sérvia da história trata o tema como uma das guerras civis que resultaram no
desmantelamento da antiga Iugoslávia.
A verdade é que, pelo caminho, restaram corpos de homens, mulheres,
jovens e idosos. Estima-se que até 40% das vítimas do conflito tenham sido
civis. Mais de 700 mil pessoas tiveram que deixar a Croácia, se refugiando em
países vizinhos dentre estes, mais de 250 mil sérvios que viviam na Croácia
voltaram ao seu país de origem ou se abrigaram na vizinha Bósnia, especialmente
após a Operação "Storm" (Tempestade).
A guerra, que teve início paralelamente à declaração de independência da
Croácia, colocou frente a frente o exército croata (inicialmente constituído
por apenas 1,5 mil homens), as milícias rebeldes sérvias que viviam na Croácia (e
eram contra a independência), e as forças do exército iugoslavo (JNA), liderado
pelo presidente sérvio, Slobodan Milosevic. O líder embasava seu discurso
intervencionista na necessidade de evitar que as minorias sérvias tivessem seus
direitos suprimidos, ao mesmo tempo em que buscava "manter a união"
das repúblicas que constituíam a Iugoslávia. Em outras palavras, para salvar os
sérvios que moravam em outros países, Milosevic estava disposto a tudo. Até
invadir territórios e matar gente.
Aproveitando-se da fragilidade inicial das forças de defesas do
presidente croata Franjo Tudman, os sérvios chegaram a ocupar um terço do
território da Croácia - notadamente em áreas habitadas pela população de origem
sérvia. As forças leais a Tudman, no entanto, foram aos poucos ganhando
envergadura, até reconquistarem a totalidade de seu território. O governo
croata investiu cerca de 1 bilhão de dólares para equipar seu exército e
formar novos combatentes. Mas o prejuízo em infraestrutura e custos relacionados
a refugiados foi bem maior: 37 bilhões.
Entre os vários momentos da Guerra na Croácia, três episódios marcaram o
conflito: a destruição praticamente total da cidade patrimônio cultural da
Unesco, Dubrovonik, no litoral sul do país (dezembro de 1991); a Operação
"Storm" (Tempestade) (agosto de 1995); e o cerco à Vukovar.
Chamada de a "cidade dos heróis", Vukovar é o símbolo da
resistência croata e, ao mesmo tempo, palco de um dos piores massacres do
enfrentamento. Lá, cerca de 4 mil civis e militares croatas defenderam a cidade
dos ataques do exército iugoslavo/sérvio por três meses, entre agosto e
novembro de 1991. Do lado sérvio, havia 6,8 mil soldados e 15 tanques de
armamento pesado. Do lado croata, só a metade dos soldados improvisados tinha
armas.
O resultado do embate, contudo, foi devastador: 1.739 pessoas morreram.
A cada três vítimas fatais, duas eram civis. Centenas de croatas foram
encaminhados a campos de concentração na Sérvia. Mais de duas mil pessoas
ficaram feridas e 20 mil desalojadas. Apenas no dia 20 de novembro de 1991, 260
pessoas foram retiradas do hospital de Vukovar e executadas pelos sérvios. Os
corpos foram enterrados numa vala coletiva na localidade vizinha de Ocvara. As
vítimas eram civis feridos, militares e o corpo médico do hospital da cidade,
com idades entre 16 e 72 anos. O local onde a vala coletiva foi descoberta é
sede, hoje, de um memorial.
Atualmente, Vukovar tem 27 mil habitantes. E segue dividida. Há escolas
específicas para filhos de croatas (que representam 60% população) e sérvios
(35% dos moradores) e bares onde, dependendo de sua origem, você não pode
pisar.
Guerra na Bósnia e Herzegovnia: Cerco de
Sarajevo e o túnel da esperança.
A Guerra na Bósnia e Herzegovina durou três anos, oito meses e oito
dias. Começou em 6 de abril de 1992 (data em que o país foi admitido como
membro da ONU) e só acabou em dezembro de 1995. A independência da multiétnica
república da Bósnia - então habitada por bósnios muçulmanos (44%), sérvios
ortodoxos (31%) e croatas católicos (17%) - havia sido definida por um
referendo pouco tempo antes do início do conflito, em em 29 de fevereiro de
1992. Só que os sérvios não levaram a independência a sério e decidiram
estabelecer, dentro da Bósnia, sua própria República (Srpska).
Estava lançada mais uma guerra no território da antiga Iugoslávia.
O conflito deixou aproximadamente 100 mil mortos. Entre as vítimas, 40
mil civis. Cerca de 50 mil mulheres bósnias foram estupradas e 1,5 milhão de
pessoas ficaram desabrigadas ou refugiadas. Foi o primeiro caso de genocídio na
Europa pós-Segunda Guerra Mundial. Campos de concentração também se tornaram
comuns.
Na linha de combate se enfrentaram os representantes de cada etnia da
então República: sérvios e bósnios de origem sérvia (representantes da
República de Srpska, apoiados pelo exército Iugoslavo (JNA), de Slobodan
Milosevic), croatas e bósnios de origem croata, e bósnios de origem muçulmana grupo
que registrou as maiores perdas.
O mundo acompanhou ao vivo os principais momentos do conflito.
Especialmente, o cerco da capital Sarajevo - o mais longo da história moderna,
entre abril de 1992 e fevereiro de 1996 (cerca de dois meses após o fim da
própria Guerra na Bósnia). Sem água ou energia elétrica e aprisionados em suas
próprias casas, os moradores de Sarajevo estavam sendo dizimados pelas forças
sérvias, que se posicionaram ao longo das montanhas que circundam a capital. A
cobertura da imprensa fez com que a ONU tivesse que agir. Um acordo foi feito
com as lideranças sérvias para que o aeroporto de Sarajevo servisse de base
para a chegada de alimentos, roupas, cuidados de saúde e outros.
Com a criação da "zona livre de guerra", representantes
bósnios tiveram uma ideia: construir um túnel debaixo da pista do aeroporto - o
que permitiria o ingresso de mais comida e utensílios que já não eram
encontrados na cidade. O serviço foi executado por 133 pessoas, entre militares
e civis, e durou quatro meses e quatro dias, entre março e junho de 1993. Um
dos homens que trabalhou na construção do túnel, Abid Jasar, 58, falou com a
equipe da Super. "Tínhamos duas
equipes cavando em lados opostos sob a pista do aeroporto. A ideia era nos
encontrarmos no meio do caminho abrindo, assim, o túnel para o transporte de
mantimentos e deslocamento de pessoas. Tivemos sucesso, e, certamente, a
iniciativa garantiu a sobrevivência da cidade, que estava completamente
batida", lembra o veterano que fez parte do exército bósnio e hoje mantém
uma loja de souvenirs ao lado do
túnel. O lugar, inclusive, é um dos principais pontos turísticos da cidade.
Mesmo duas décadas depois da Guerra, Sarajevo segue repartida e longe de
ostentar o padrão de vida europeu, ou de capitais próximas, como Belgrado e
Zagreb. O cerco de Sarajevo deixou cerca de 15 mil mortos (40% civis) e legou à
Capital um impressionante número de cemitérios, muitos estabelecidos em espaços
que antes do conflito serviam como parques abertos ao público.
A "Ponte Velha" (Old Bridge) da cidade de Mostar é, talvez, o
mais difundido e, certamente, um dos mais belos pontos turísticos da Bósnia e
Herzegovina. No entanto, poucos sabem que a ponte, construída pelo Império
Otomano no século XVI, foi destruída em 1993 durante a guerra que cortou o
País. Reinaugurada em 2004, ela segue representando a "divisão" entre
os dois lados da cidade, o ocidental (ocupado majoritariamente por croatas
católicos) e o oriental (habitado pelos bósnios muçulmanos). Conforme Sladja
M., gerente de um restaurante localizado ainda na "parte Ocidental",
é comum encontrar pessoas que até hoje não fizeram a travessia da ornamental
Ponte Velha, justamente, por não saber o que poderiam encontrar "do outro
lado". Sobre o período da guerra, ela ensina: O melhor é esquecer. Porém,
nem todos conseguem. E alguns simplesmente não querem.
Fonte: http://super.abril.com.br/historia/relembre-as-guerras-na-antiga-iugoslavia-nos-anos-1990
Enviado por: Profº Marcelo Osório
Costa.
A nacionalista Sérvia foi capaz de tudo para defender a população de origem sérvia que vivia nos outros países constituintes de ex-Iugoslávia. Também sabiam que, com a separação, seu país iria entrar em crise, pois não contaria com o apoio das Repúblicas mais ricas. Apesar dos esforços Milosevic acabou se rendendo às forças de segurança iugoslavas.
ResponderExcluirA Ex-Iugoslávia vê consequências desses e outros conflitos até os dias de hoje, casos de ódio, discriminação é disputas no TPI (Tribunal Penal Intencional) sobre questões territoriais são comuns ao povo da região da Ex-Iugoslávia
ResponderExcluirA guerra civil que seguiu a secessão terminou com grande parte da antiga Iugoslávia reduzida à pobreza, enormes perturbações economicas e persistente instabilidade em todo o território onde ocorreram os piores combates.
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