Peregrinos na caverna de Hera, onde islâmicos acreditam que Maomé recebeu as palavras do Corão.
Enquanto muçulmanos de todo o mundo se
dirigem a Meca para o Hajj, a peregrinação anual a Meca, Irã e Arábia Saudita
intensificaram sua rivalidade sectária em torno de qual país representa o islã
verdadeiro.
O Irã lançou seu primeiro dardo na segunda-feira (5),
quando o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, acusou a Arábia Saudita
de matar peregrinos intencionalmente durante o Hajj do ano passado. Ele
convidou os muçulmanos do mundo a reverem o controle saudita dos locais
sagrados.
A Arábia Saudita respondeu na terça-feira (6), quando o
clérigo de mais alta posição no reino declarou que os líderes iranianos
"não são muçulmanos".
A rixa ressalta a rivalidade religiosa e estratégica
profunda existente entre o Irã, de governo xiita, e a família real saudita,
sunita, uma hostilidade que deixou as duas potências do Oriente Médio em lados
opostos nas guerras no Iêmen e na Síria e os leva a competir, cada uma
procurando enfraquecer a influência da outra na região.
Guardas carregam caixões de peregrinos iranianos mortos durante ida a Meca, na Arábia Saudita.
O desentendimento diplomático mais recente se
dá logo antes do aniversário de um tumulto trágico ocorrido na peregrinação do
ano passado que deixou mais de 2.400 mortos, incluindo centenas de iranianos,
segundo contagem da Associated Press. A contagem oficial de mortos realizada
pela Arábia Saudita, que não foi atualizada desde logo após o acontecimento,
apontou para 769 mortos.
Os dois países romperam relações diplomáticas em janeiro,
depois que manifestantes iranianos invadiram missões diplomáticas sauditas para
protestar contra a execução pela Arábia Saudita do clérigo xiita xeque Nimr
al-Nimr.
As negociações com vistas a permitir a participação de
peregrinos iranianos no Hajj deste ano fracassaram, de modo que não haverá
iranianos presentes.
Na segunda-feira, Khamenei aproveitou a mensagem anual que
divulga na ocasião do Hajj para criticar os sauditas, acusando-os de não ter
dado atendimento aos feridos no tumulto do ano passado.
"Os sauditas indiferentes e assassinos trancaram os
feridos juntamente com os mortos em contêineres, em vez de lhes prestar
atendimento médico e ajudá-los, ou, no mínimo, matar sua sede", disse
Khamenei em declarações publicadas em seu site na internet. "Eles os
assassinaram."
As autoridades sauditas disseram que o tumulto aconteceu
quando dois grupos de peregrinos se encontraram frente a frente numa rua
estreita. Mas o governo nunca divulgou as conclusões de uma investigação
prometida pela liderança saudita sobre as razões da tragédia.
Descrevendo os líderes sauditas como "Satãs
fracotes" que têm rabo preso com os Estados Unidos, Khamenei também disse
que a Arábia Saudita "reduziu a peregrinação a uma viagem de turismo
religioso", lançando um chamado por uma mudança na administração dos
locais sagrados em Meca e Medina.
"Devido ao comportamento opressor desses governantes
em relação aos hóspedes de Deus, o mundo do islã precisa reconsiderar
fundamentalmente a administração dos dois locais sagrados e a questão do
Hajj", disse Khamenei.
A Arábia Saudita reagiu na terça-feira com uma declaração
do clérigo de mais alto escalão do reino, o grão múfti xeque Abdulaziz al
Sheikh, líder de um conselho de estudiosos muçulmanos que assessora o rei.
Abdulaziz disse que não é surpreendente que o Irã ataque a Arábia Saudita
durante a temporada do Hajj.
"Precisamos entender que eles não são
muçulmanos", ele falou em declarações publicadas no jornal saudita
"Mecca". Ele aludiu aos iranianos como "filhos de Majus",
usando um termo que se refere aos seguidores do zoroastrianismo e que é usado
frequentemente em sentido pejorativo para aludir a iranianos. "Sua
hostilidade em relação aos muçulmanos vem de longe."
Fontes:
Jornal
Folha de São Paulo, 7/9/16.
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/09/1811110-ida-a-meca-intensifica-rivalidade-sobre-que-pais-representa-o-isla-verdadeiro.shtml
Enviado
por: Profº Marcelo Osório Costa.
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