O estado do Rio está tão quebrado
que está vendendo a residência de verão do governador e a pequena ilha em que
está situada. Mas, por causa de um resgate recente do governo federal, as
Olimpíadas de verão ocorrerão bem, dizem oficiais.
O problema é o que irá acontecer
depois dos Jogos. “Um medida isolada não resolve os problemas do estado”, disse
Leonardo Espíndola, chefe de gabinete do governador. “A crise afeta todos os
setores.”
A terrível situação financeira do
governo do estado ofuscou as preparações para os primeiros Jogos Olímpicos da
América do Sul, que terão sua abertura em 5 de agosto. Esta em andamento um
déficit de cerca de $6 bilhões ao ano, disse Espíndola em uma entrevista na
quinta-feira, e pulou de uma crise para outra desde o ano passado, quando os
hospitais do estado estavam sem suprimentos básicos.
Lutando para pagar salários e
pensões e para manter as entidades publicas operando, representantes se
voltaram para uma retórica apocalíptica para tirar dinheiro do governo central
e reverter um desastre nas Olimpíadas.
Em abril, Espíndola avisou sobre
um “colapso social” iminente. Em junho, o governador em exercício, Francisco
Dornelles, representando o governador Luiz de Souza, que está passando por
tratamento de câncer, declarou “estado de calamidade pública na administração
financeira”. Espíndola disse que a ação de Dornelles foi decisiva para a
concessão de $870 milhões do governo federal que, combinados com medidas de
austeridade, estabilizaram a situação.
Agora, representantes dizem que
tudo está em seu devido lugar para que o Rio sedie um Olimpíada memorável – no
entanto, muitos analistas duvidam até disso. A maior parte do resgate federal
foi usado para cobrir gastos de segurança e pagar salários da polícia,
bombeiros e agentes penitenciários. Menos de um mês antes do início dos Jogos,
alguns centros de saúde emergenciais reduziram suas horas e estão batalhando
para pagar fornecedores. Os professores estão em greve. Policiais e bombeiros
já protestaram duas vezes no aeroporto internacional do Rio, alertando que a
segurança dos visitantes não pode ser garantida e protestando por salários não
pagos.
Residentes em algumas áreas
doaram papel higiênico, produtos de limpeza e até combustível à batalhões da
polícia que estão sem suprimentos, disse Fernando Bandeira, diretor de um
sindicato de investigadores. “Essas condições são um pouco precárias,” ele
disse.
Um sargento de polícia
recentemente aposentado, que falou em anonimato por causa da delicadeza dos
assuntos, disse que as Olimpíadas não serão seguras para os visitantes mesmo
com o envio de 85.000 soldados e policiais.
Ao invés, ele disse, comandantes
locais podem escolher lidar com as gangues armadas que controlam muitas das
comunidades de baixa renda, chamadas de favelas, onde muito do crime está
concentrado. Se os traficantes reduzirem o numero de assaltos na área, ele
disse, a polícia deixa o tráfico em paz.
“Isso acontece”, ele disse. “’É a
prática.”
Enquanto isso, alguns residentes
cariocas já estão usando um novo aplicativo de celular divulgado pela filial da
Anistia Internacional no Brasil para evitar lugares que ocorreram tiroteios. É
chamado de Fogo Cruzado.
“A preocupação, no entanto, é que
mesmo que os Jogos aconteçam calmamente, o desastre foi meramente adiado. Outro
sargento de polícia, também no anonimato, caracterizou o resgate como uma
medida de curto prazo e com alvo na segurança.
“Isso é para nós trabalharmos
durante as Olimpíadas, para nos calar”, ele disse. “Não sabemos o que vai
acontecer depois”.
Espíndola reconheceu, dizendo que
cortes de gastos e resgates do governo são “medidas paliativas” e que maiores
mudanças estruturais são necessárias, incluindo leis que permitam que o estado
reduza o sistema de pensões.
As generosas leis de pensão
brasileiras permitem que todos os servidores públicos se aposentem aos 50 anos,
prejudicando muitos estados que já enfrentam dificuldades financeiras. O Rio
tem mais pessoal aposentado do que trabalhando, disse Espíndola, e seus custos
representam mais da metade do déficit. Mas o Rio está pior que os outros, de
acordo com José Afonso, pesquisador do Instituto de Economia da Fundação
Getulio Vargas, porque também depende fortemente do rendimento fiscal da
produção de petróleo – e os preços do petróleo baixaram.
Uma crise de corrupção gigantesca
na companhia de petróleo estatal Petrobras, sediada aqui, também reduziu a
construção de plataformas de petróleo e equipamentos e atingiu companhias
fornecedoras no Rio, com um efeito em cadeia para o estado.
A receita fiscal de petróleo do
Rio caiu de um quinto de sua renda para 10% em dois anos, disse Afonso.
O estado também foi atingido pela
recessão que está atingindo o país como um todo, a pior em décadas. O
presidente interino Michel Temer, colocou as medidas de austeridade como
plataformas principais depois de tomar o lugar de Dilma Rousseff, que está
suspensa do cargo esperando um julgamento controverso de impeachment.
“O cenário é sombrio para os
próximos anos”, disse Afonso.
Para visitantes e atletas que
ficam nas principais áreas Olímpicas, a crise do Rio só será visível se ficarem
doentes ou forem vítimas do crime.
Os centros emergenciais de saúde
do estado viram o orçamento quase reduzir à metade, disse Rubem Fernandes, diretor
do grupo sem fins lucrativos, Viva Rio, que gerencia seis deles.
“Reduzimos o número de médicos,
enfermeiras e assistentes”, disse Fernandes. “Mas temos mais filas”.
No entanto, o governo federal
contratou 2,500 profissionais médicos extras para os Jogos do Rio, baseados em
seis hospitais federais. Dois hospitais estaduais foram tomados pelo governo da
cidade, que é responsável pela maior parte dos locais Olímpicos e está em
melhor forma financeira.
Alguns críticos dizem que a
corrupção influencia a bagunça financeira do Rio. Um colaborador chave no
escândalo da Petrobras acusou ambos ex-governador do Rio, Sérgio Cabral e o
ex-deputado e sucessor, o aliado de Souza, de suborno no valor de milhões de
dólares em contratos para uma refinaria de petróleo.
Outros colaboradores disseram que
Cabral, que governou o Rio até 2014, recebeu propinas em contratos para a nova
linha de metrô do Rio de $2.7 bilhões. Ambos negaram as acusações.
Cerca de $90 milhões do recente
resgate federal foram para o término da linha, financiada com empréstimos dos
governos brasileiro e francês e programada para ser inaugurada com atuação
limitada apenas quatro dias antes dos Jogos. Alguns experts sobre transporte
disseram que isso deixa pouco tempo para testes com passageiros. Os documentos
de licitação prometeram a linha para 2014.
“A construção deveria estar
completa”, disse Paulo Ribeiro, professor de engenharia do transporte da
Universidade Federal do Rio. “Como não está, espero que esteja segura”.
Alexandre Rojas, professor de
engenharia do transporte da Universidade Estadual do Rio, disse que normalmente
os testes durariam dois ou três meses. Mas disse que a linha teria garantias de
segurança de padrão internacional.
O secretariado de transporte do
Rio disse que a linha será operada manualmente durante os Jogos e acessível
somente a passageiros com credencial Olímpica e ingressos dos eventos. Será
fechada durante as Paralimpíadas que seguirão e será iniciado um serviço
automático em Setembro por quatro horas ao dia.
A situação acerca da linha do
metrô é um sinal de como, longe das fabulosas novas instalações, o Rio pode
passar raspando pelas Olimpíadas, separando os visitantes dos seus moradores
pobres.
Outro sinal veio em quatro de
julho, quando o prefeito Eduardo Paes, inaugurou a terceira linha BRT da
cidade, ligando as áreas dos Jogos ao resto da cidade. Conecta a Barra da
Tijuca, um bairro no oeste da cidade, a um segundo núcleo Olímpico em Deodoro,
na zona oeste, passando por favelas e bairros de baixa renda.
“Isso muda a vida das pessoas”,
disse Paes. Ele disse que a crise financeira do estado e as preocupações com a
segurança “não são um problema”.
Como a nova linha do metrô, essa
BRT estará disponível durante os Jogos somente àqueles com credenciais
Olímpicas e ingressos. Para o resto da população, o acesso virá depois, assim
como a ressaca pós-Olímpica – isso, se o estado conseguir financiamento para
terminar o trabalho na linha do metrô.
Carta
Maior, 13/7/16.
Enviado por: Profº Marcelo Osório Costa.
É uma grande tristeza,ao ler essa reportagem e saber que na crise que o Brasil está infrentando, ainda aceita o Rio de Janeiro ser a sede da olimpíada 2016.
ResponderExcluirBem, a eleição vem aí, vamos ver as desculpas em relação a um país que mesmo em crise possui coragem para sediar um evento como esse, resultado veremos depois
ResponderExcluirBem, a eleição vem aí, vamos ver as desculpas em relação a um país que mesmo em crise possui coragem para sediar um evento como esse, resultado veremos depois
ResponderExcluirÉ lementável a sediação olímpica em nosso país que se encontra em meio a uma crise e um caos político.
ResponderExcluirÉ lementável a sediação olímpica em nosso país que se encontra em meio a uma crise e um caos político.
ResponderExcluirJá era de se esperar que isso fosse ocorrer, afinal o país está em crise e não se tem uma previsão concreta do seu final, baseando - se nisso era óbvio que haveriam problemas ao sediar um evento desse porte.
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