Pouco antes das 7h (hora
local), uma fotografia do sol despontando no horizonte de Havana foi publicada
nas redes sociais pela blogueira Yoani Sánchez, uma das mais conhecidas
opositoras ao regime. “Amanhece em Havana após o anúncio da morte de Fidel
Castro”, escreveu. “Cuba, um país de silêncios neste sábado”, acrescentou,
cinco horas depois. Por meio do Twitter, Yoani contou que os olhares dos
cubanos pareciam dizer “Disso não se fala”. Se grande parte da população
preferiu a discrição, talvez em obediência ao luto, a dissidência reagia com
alívio ao último suspiro do ex-presidente.
Líder da organização não
governamental Damas de Branco – grupo formado por mulheres e mães de
prisioneiros políticos que protestam pelas ruas, vestidas de branco e
carregando palmas-de-Santa-Rita –, Berta Soler contou à reportagem que estava
em Miami na madrugada de ontem e retornou a Havana por volta das 8h. “À 1h,
minha irmã me comunicou a morte do ditador. Sou uma mulher que ama a vida e a
família e que não deseja a morte de ninguém, mas fiquei bastante contente, pois
agora temos um ditador a menos”, relatou. “O ditador Fidel Castro morreu! Fidel
Castro morreu! Um ditador responsável pela morte por muitos e pela separação
das famílias da nação cubana. Quem morreu não foi um homem, mas o ditador Fidel
Castro”, acrescentou, por telefone.
Soler afirma que Raúl Castro
segue aferrado ao poder, inviabilizando a democracia. No entanto, ela vê a
eleição do republicano Donald Trump como uma oportunidade para a ilha. “Trump
declarou que morreu um ditador. Ele colocou as coisas em seu próprio nome. Peço
ao presidente Trump que condicione as relações com a ilha à abertura rumo à
transição”, defende. A ativista disse que não percebeu uma mudança na rotina,
em Havana, após o anúncio da morte de Fidel. “Não há nenhum comentário nem
tristeza. Tudo está normal, como se nada tivesse ocorrido.” Ela prometeu que as
Damas de Branco manterão sua luta. Hoje, elas devem voltar a marchar pelas ruas
da capital para exigir a libertação dos presos políticos.
Filha de Oswaldo Payá,
dissidente morto em um acidente automobilístico suspeito, em 22 de julho de
2012, Rosa María Payá disse à reportagem que as reações de júbilo vistas nas
ruas de Miami contrastaram com o aumento da repressão em Havana. “Desapareceu o
símbolo responsável pela instalação do totalitarismo comunista em Cuba e por
vários crimes. Mas Cuba segue em uma tirania, ainda que Fidel tenha saído de
cena”, afirmou, por telefone. “Eu gostaria de instar a comunidade internacional
a levantar voz contra a repressão. Muitos dos opositores, na ilha, estão tendo
as casas revistadas e alguns foram detidos, como o grafiteiro Danilo Maldonado.
O estado policial visto hoje (ontem), em Havana, coloca os adversários do
regime numa situação muito vulnerável.”(RC).
Fonte: Jornal Estado de Minas, 27/11/16.
Enviado por: Profº Marcelo Osório Costa.
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