“Que quadro d’amarguras!
/ É canto funeral! ... / Que tétricas figuras” ... / Que cena infame e vil... “
As circunstâncias históricas são diferentes das cantadas no poema O navio negreiro, que Castro Alves
escreveu em 1869, mas não é menos infame e vil a cena acima, de migrantes
africanos puxando um bebê de volta para o interior de um barco à deriva no Mar
Mediterrâneo, na terça-feira passada. A embarcação de madeira foi encontrada
por um navio de resgate espanhol junto a outras menores a menos de 20
quilômetros do litoral líbio, de onde haviam zarpado com cerca de 3.000 pessoas
a bordo. Tão espremidos estavam que, no desespero para ser socorridos,
somalianos, nigerianos e congoleses acabavam derrubando uns aos outros na água.
No porão havia 32 cadáveres – vítimas de afogamento ou sufocamento nos dias
anteriores. Desde 2008, 200.000 migrantes e refugiados por ano, em média,
cruzam o Mediterrâneo rumo à Europa. Em comparação, nos três século em que se
traficaram escravos no Oceano Atlântico, 40.000 africanos por ano foram levados
para as Américas. Felizmente, os passageiros dos navios negreiros da atualidade
não são acorrentados nem açoitados, mas são explorados e abandonados em
alto-mar pelos traficantes e, quando alcançam a Europa, subsistem em
subempregos. Caberá a um português a tarefa de unir o mundo em torno de uma
solução para essa infâmia que ecoa o passado: Antonio Guterres, eleito secretário-geral
da ONU na semana passada, foi durante dez anos alto-comissãrio da instituição
para refugiados.
Fonte: Revista Veja, edição 2449, ano 49, nº 41, 12 de
outubro de 2016.
Enviado por: Profº Marcelo Osório Costa.
O navio negreiro – ou “tumbeiro” – foi o tipo de cargueiro usado para trazer mais de 11 milhões de africanos para serem escravizados na América. Em caravelas ou barcos a vapor, europeus, americanos e até mesmo negros se metiam no “infame comércio”. Os traficados eram, na maioria, meninos e jovens de 8 a 25 anos. Isso mudou nos últimos anos do tráfico. “Tudo quanto se podia trazer foi trazido: o manco, o cego, o surdo, tudo; príncipes, chefes religiosos, mulheres com bebês e mulheres grávidas”, disse o ex-traficante Joseph Cliffer, em depoimento ao Parlamento Britânico, em 1840. Como não havia fabricação de navios apenas para o comércio de escravos, até hoje já foram identificados pelo menos 60 tipos de embarcações adaptadas como tumbeiros. Se houve uma regra, é que eles ficaram menores e mais velozes no século 19, à medida que o tráfico se tornou ilegal e passou a ser perseguido pela política antiescravista dos ingleses a partir da aprovação da lei Bill Aberdeen, em 1845.
ResponderExcluirOs povos africanos além de carregarem a herança escravagista que persiste até os dias de hoje, têm que conviver com os conflitos locais e a extrema corrupção em diversos países que acabam abalando as condições de vida dessas pessoas. A solução encontrada é se refugiar em outro continente, mas nem sempre são bem acolhidos e passam a sofrer mais preconceitos além de racismo.
ResponderExcluirOs povos africanos além de carregarem a herança escravagista que persiste até os dias de hoje, têm que conviver com os conflitos locais e a extrema corrupção em diversos países que acabam abalando as condições de vida dessas pessoas. A solução encontrada é se refugiar em outro continente, mas nem sempre são bem acolhidos e passam a sofrer mais preconceitos além de racismo.
ResponderExcluirÉ triste saber que mesmo depois de alguns séculos a situação dos africanos pouco mudou, dês de a miséria às guerrilhas internas... Há tantos grupos com os mais diferentes credos e dogmas e isso só agrava mais os conflitos onde um grupo mais forte forçam outros considerados por eles "inferiores" são expulsos de sua própria nação, não tendo outra opção a não ser migrarem para outros continentes. Esse é só um dos vários fatores que influenciam essa deslocamento e que muitas vezes não é bem visto pelas outras nações.
ResponderExcluirIsso e o que chamamos de escravidão moderna pois são tratados de forma desumana e trabalham sobre circunstancias semelhantes as dos escravos.
ResponderExcluirOs navios negreiros era uma forma de transporte e comercialização de escravos antigamente.
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